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Tempo Acelerado: Ilusão?

Jul 02, 2025
Foto da capa: Shelby Bauman on Unsplash

 

Outro dia era janeiro. Agora, piscamos, e estamos em julho. Talvez você também tenha sentido isso: uma mistura de espanto, frustração e até um leve desespero — como se o ano estivesse a escorrer por entre os dedos, como areia fina que escapa sem que possamos segurá-la. Sentimos que não fizemos "o suficiente", que não vivemos "o bastante", como se estivéssemos sempre atrasados. Essa sensação comum de que o tempo está a acelerar não é apenas emocional — ela tem explicações reais, tanto na neurociência como na metafísica e filosofia.

 

          Você Também Sentiu o Tempo Voar?

 

Do ponto de vista científico, existem explicações para justificar a sensação de que o 'tempo esteja voando' baseado na percepção mental principalmente de pessoas mais velhas. Como fala o cientista Adrian Bejan, PhD, professor da Duke University, em seu livro 'Time And Beauty: Why Time Flies And Beauty Never Dies', onde ele explica que o “tempo do relógio” — o tempo físico mensurável — não coincide com o “tempo mental”, pois este é composto por uma sequência de imagens percebidas pela mente.

O professor Bejan afirma que “a mente jovem recebe mais imagens durante um dia do que a mente mais velha”, o que faz com que o tempo pareça passar mais devagar na infância e acelerar com o envelhecimento. Isso ocorre porque à medida que envelhecemos, o cérebro processa menos estímulos visuais por segundo, tornando o tempo subjetivo mais curto. Em crianças, o número de “novidades” registradas é maior, criando memórias mais densas — o que faz os dias parecerem mais longos. Já adultos, presos a rotinas e repetição, geram menos marcos cerebrais e, por isso, experimentam um tempo “mais curto” retrospectivamente.

Além disso, estados emocionais interferem diretamente na percepção temporal. Quando estamos ansiosos, exaustos ou sobrecarregados, o cérebro entra num modo de “funcionamento automático”, pouco consciente do presente. Isso rouba a nossa ancoragem no agora. É aí que nasce o incômodo de ver o ano passar tão depressa — sentimos que não habitamos o tempo como deveríamos. E junto com isso, vem o temido FOMO (Fear of Missing Out), a sensação constante de que há algo melhor acontecendo em outro lugar ou que estamos a desperdiçar nossa própria vida. Vale lembrar que geralmente o FOMO tem mais há ver com uma pressão social em participar de tudo ao mesmo tempo do que uma real ocorrênncia de perda de tempo ou oportunidades.

Se olharmos para este tema a partir de uma lente mais metafísica, percebemos que o tempo não é apenas uma sequência cronológica — é uma construção de consciência. Estar no tempo, portanto, exige presença. Quando vivemos desconectados, em permanente antecipação ou revivendo o passado, perdemos a experiência do real. A aceleração do tempo pode ser, então, um sintoma moderno de uma desconexão profunda com o presente e com a própria existência. Em outras palavras: o tempo não está a fugir — somos nós que estamos ausentes dele.

Do ponto de vista espiritual e metafísico, há correntes que defendem que o tempo está realmente “acelerando” — não em termos físicos, mas na maneira como o percebemos. Segundo algumas tradições esotéricas, estaríamos passando por um processo de elevação vibracional, tanto da Terra quanto da consciência humana. Esse aumento energético estaria influenciando nossa percepção do tempo, tornando-o mais subjetivo e veloz. Para muitos, experiências que antes pareciam ocupar semanas ou meses agora se condensam em dias, intensificando a sensação de urgência e fluidez.

Além disso, algumas dessas visões apontam para fenômenos como a mudança na resonância Schumann — a frequência eletromagnética da Terra — como reflexo dessa transformação, embora tal correlação ainda careça de comprovação científica. E também existem registros recentes de variações mínimas na velocidade de rotação da Terra — dias ligeiramente mais curtos, por frações de milissegundo. Embora essas alterações sejam reais e mensuráveis, são extremamente pequenas e não justificam, por si só, a sensação subjetiva de aceleração do tempo.

A percepção de que os dias "voam" também estaria ligada a uma nova forma de vivenciar o tempo: menos linear, mais conectada ao presente, à expansão da consciência e ao que é chamado de “despertar coletivo”. Nesse contexto, o tempo cronológico perde protagonismo para uma vivência mais sensível e intuitiva do momento presente.

Cientificamente, a ressonância Schumann é uma realidade bem estabelecida na física atmosférica. No entanto, as interpretações espirituais e esotéricas sobre seus efeitos na mente humana ou na vibração da terra são teorias não comprovadas, embora populares em certos círculos da espiritualidade contemporânea.

É importante destacar que, do ponto de vista da física, o tempo continua sendo medido de maneira constante e precisa. No entanto, a experiência subjetiva do tempo pode ser profundamente alterada por fatores emocionais, espirituais e vibracionais. Assim, dizer que o tempo está “acelerando” pode não ser literal, mas simbólico de uma transformação mais ampla em curso na forma como vivemos e sentimos o mundo — marcada por um ritmo interno diferente, fruto de uma mudança de consciência individual e coletiva.

 

                Mas nem tudo está perdido...

 

Foto da Jacqueline Munguía on Unsplash

 

A ciência mostra caminhos práticos para “desacelerar” a vida. O primeiro é cultivar novidade: sair da rotina, mudar o caminho para casa, iniciar um hobby ou aprender algo diferente — tudo isso estimula o cérebro a criar novas memórias e recuperar a sensação de tempo expandido. O segundo é desenvolver atenção plena: práticas como mindfulness, respiração consciente e journaling ajudam a ancorar a mente no presente. E o terceiro é a intencionalidade — escolher o que importa, eliminar o excesso e construir uma rotina com significado.

Talvez não possamos parar o relógio, mas podemos reaprender a habitar o tempo. Ao cultivar presença, novidade e sentido, transformamos a pressa em profundidade. Assim, quando o próximo julho chegar, talvez ainda nos espantemos com a velocidade dos dias — mas com a diferença de que teremos vivido cada um deles de forma mais inteira. Afinal, o tempo não precisa ser nosso inimigo; pode ser nosso aliado na construção de uma vida mais consciente e significativa.

Vamos pensar nisto?

O que acha?

Abraços,

Siglia